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07/01/2014

Lolita (Vladimir Nabokov)

"Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta (...)"
Assim inicia-se a história da desenfreada paixão de Humbert Humbert por Dolores Haze (Dolly - Lô - Lola - Lolita), uma menina de 12 anos.
É uma temática polêmica e confesso que fiquei bastante dividida com esse livro. O autor, Vladimir Nabokov, abordou o tema de forma direta, embora... lírica. A narrativa é de uma beleza impressionante; ele nos conta essa história doentia de forma maravilhosa.

Antes de conhecer Lolita, Humbert Humbert, nosso narrador doente (e ele tem plena consciência disso), claramente mostra ao leitor sua predisposição à pedofilia.
Ok, Lolita não é um poço de ingenuidade. H.H. a denomina de "ninfeta" (uma criança por volta dos doze à quartoze anos que seduz homens mais velhos com artifícios de uma mulher madura) e, claro, só quem tem olhos meticulosos perceberia esse fato. Portanto, para H.H. era visível a malícia provocativa de Lolita, apesar de seu natural comportamento tempestuoso.

H.H. casou-se com a mãe da ninfeta apenas para tê-la por perto, mas acabou enviuvando em um tempo curtíssimo, podendo, assim, tomar Lolita para si. Pois com ela "tinha sido amor à primeira vista, à última vista, às vistas de todo sempre".
A rotina de H.H. e Lolita, por dois anos, foi a estrada. Entre hotéis, passeios, vontades feitas, Lolita o satisfazia. E também é apresentado ao leitor, embora não explícito,  todos os momentos críticos da relação deles.
Entendam, nenhum dos dois personagens centrais nos inspira moralismo. A interação deles é algo interessante de se ler, é possível que o leitor esqueça que Lolita é apenas uma criança algumas vezes, mas H.H. não deixa essa ilusão se firmar, pois sua condição sempre ascende.

A proposta de Nabokov com esse tema ousado desperta no leitor sentimentos diversos. É compreensivo e aceitável a condição de H.H? Será que a ninfeta realmente aprecia o que lhe foi imposto? Apesar de Lolita ser descrita como uma ninfeta, por vezes o narrador nos mostra sua infantil fragilidade; assim como expõe que sua preferência por práticas sexuais estão além de seu controle.

O interessantíssimo e despertador do livro é que H.H. , apesar de seus terríveis atos, nos escreve sobre Lolita com um amor avassalador."Eu te amava. Não passava de um monstro pentápode, mas te amava. Fui desprezível e brutal, e torpe, e tudo o mais, mas je t'aimais, je t'aimais! E houve momentos em que sabia como te sentias, e a consciência disso era um inferno, minha pequena (...)".

Com uma escrita espetacular, Nabokov nos atrai para um universo complexo e nos enche de perspectivas que julgávamos não ter. Quem (como eu) achar a temática pesada e repulsiva, vai ser enredado pela prosa lírica do autor. Narrativa essa conhecida por autorias russas.
"Lolita" é um livro grandioso que nos mostra o lado de dentro da imoralidade doentia, porém involuntária, de H.H. É simplesmente impressionante.
Recomendo muito.




10 comentários:

  1. As resenhas da Fernanda são sempre ótimas. Tenho muita vontade de ler este livro e creio que terei as mesmas reações conflitantes.

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    1. Obrigada pelo elogio, Roberta!
      Vindo de uma autora diva como tu, isso é motivo para horas de tchau de miss!
      A leitura vai realmente a pena! A narrativa é incrível, mas a temática pesa, sim.
      Minha reação foi muito condizente a minha visão de mundo e é interessante ver como isso varia de pessoa para pessoa.
      Quando conseguires ler, vamos trocar figurinhas.

      Beijo e obrigada pelo comentário <3

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  2. Fernanda,
    Sua resenha conseguiu me atingir *like a pedrada na testa* de forma dolorida. Vc descreveu tudo o que senti ao ler esse livro de Nabokov (que foi meu primeiro). Quis largar o livro por sentir nojo de H. Humbert, mas a forma delirante com o autor fala desse amor doentio não permite que ninguém desista dessa leitura.
    Tenho um desejo absurdo de conhecer mais do autor, mas também tenho medo do que esse russo "desgramado" pode me fazer sentir, sabecomé?!?!

    É muito conflito pra uma Lilian só. Saca a genialidade do livro pra mim?

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    1. Os autores russos tem essas narrativas carregadas, sabe.
      Já li um livro de Dostoiévski e andei folheando Tolstoi, então o padrão deles é bem identificável.
      Nabokov me surpreendeu com seu lirismo, mas pra não deixar barato, me joga uma temática dessa na cara.
      Esse livro é pesado, sim. Suas entrelinhas está cheia de mensagens subliminares. rss.
      Quero muito ler outras obra desse autor, também. Espero que ele pegue mais leve na próxima.
      Beijo, Lilian <3

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Pense em um livro que me deixou em conflito. Foi esse! Às vezes eu achava que não aguentaria chegar ao fim, mas a curiosidade sobre ele me levou até o último capítulo.
    Mas não há dúvidas, o livro é genial!
    Ótima resenha, Fernanda.
    Beijos,
    Vanessa T.
    Paraíso Em Papel

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    1. Conflito é o termo, Van!
      Um livro rico e com muita bagagem, certamente.
      O adorei, mas... esses problemas, esses personagens... mexeram muito comigo.
      Fiquei até meio aliviada quando acabou.

      Obrigada pela visita, querida.

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  5. Sempre quis e não quis ler esse livro. Já peguei ele na mão várias vezes e larguei sem ter, não sei se seria coragem, de ler. Eu não sou muito fã de histórias trágicas, mas a premissa do livro sempre me deixou curiosa... mas meu preconceito com o protagonista masculino antes mesmo de abrir o livro é o que me leva pra longe dele.
    Acho que esse vai ser um daqueles livros que vai ser lido no momento certo. ;)

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    1. Não tenha dúvidas, cara Bréir.
      Esse livro realmente não é fácil. Ele revolta, ele intriga.
      Entrei numa DPL violenta depois dele.
      Quando tu se sentir pronta, leia. Porque é um livro maravilhoso em narrativa, mas enfim... a temática é tensa.
      Obrigada por visitar e comentar, sua maldita linda <3

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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